Inspirado na vida e na obra de Rosalía de Castro, "Rosalía" é um espetáculo teatral que retrata os últimos anos da escritora na Casa de La Matanza, em Padrón, até sua morte em 1885. As apresentações acontecem em qualquer espaço não convencional, como instituições, museus ou mesmo em casas particulares.
Nascida em 1837 em Santiago de Compostela, Rosalía é considerada a primeira feminista galega e uma das pioneiras na Espanha. Foi a representante maior do Ressurgimento, movimento que elevou o galego a língua culta após anos na sombra.
Com a atriz criadora Cristina Cavalcanti e com a colaboração artística e de pesquisa de Henrique Pina, o trabalho é tecido a partir das poesias, canções, manifestos, cartas e fatos da vida de Rosalía. Busca suas convergências com os dias de hoje e com a história de vida da atriz, e investiga como a mulher e a artista se interseccionam.
Perpassa pela história da Galiza, berço do idioma românico galego-português, e traça também um paralelo entre os léxicos galego - língua mãe de Rosalía - português, língua mãe da atriz, e castelhano - idioma no qual Rosalía escreveu parte de sua obra. Como apaixonada pela palavra e suas variações, a atriz explorou o idioma na construção dramatúrgica.
Através do conhecimento destas matrizes tão importantes mas tão pouco exploradas, há uma busca em se aprofundar na compreensão de uma essência ainda anterior àquela que liga Brasil e Portugal. Desvendar essas conexões é como olhar para si e sua ancestralidade.
Após espetáculo há um debate sobre o galego e a lusofonia, e é distribuído a cada espectador um programa libreto com os poemas apresentados.
A poesia de Rosalía de Castro fez ressurgir a identidade literária de seu povo. Foi representante maior do Ressurgimento, movimento que propunha a literalização e a dignificação da língua galega, até então vista como um dialeto da oralidade e popularesco. Seus poemas não mais cantavam o amor da donzela pelo rapaz, e sim faziam um resgate da identidade galega: a mulher tomava voz não para se lamentar pelo amado que se foi, mas cantar sua terra, suas lutas.
A obra se move entre uma preocupação social pelas duras condições dos pescadores e camponeses galegos e outra de caráter metafísico, que a situa dentro da literatura existencial.
Tem sido equiparada à de Gustavo Adolfo Bécquer como obra tardia do Romantismo espanhol.
Uma poesia que denota ansiedade, uma inquietude angustiada ante estranhos pressentimentos que se percebem como próprios. Assim mesmo, sua dolorosa sensibilidade projetou um conjunto de magníficas visões da paisagem galega em que predomina uma atmosfera cinzenta de tristeza indefinível. Foi essa sensibilidade que transportou uma concepção da natureza como a de uma realidade animada, misteriosa, e cujos signos mais visíveis falam de uma vida dolorosa.
A encenação acontece em um ambiente que remete à “Casa de la Matanza”, lugar onde a escritora viveu seus últimos anos, hoje transformado em museu. A narrativa se constrói através da poesia, de documentos como artigos, manifestos, cartas escritos por ela, e canções compostas com letras de seus poemas. Fatos trágicos da vida pessoal da autora vêm à tona em determinadas cenas, como o momento em que ela perde o filho Adriano, de dois anos, num terrível acidente doméstico, fato do qual jamais se recuperou, seguido do aborto e do câncer que levou à sua morte aos 48 anos.